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UMA PASSARELA HI-TECH EM CURITIBA

Agora, mais uma vez a história se repete, com a inauguração da primeira passarela suspensa com esteiras rolantes construída no país, um elemento futurista a compor a arquitetura do Shopping Center Mueller, em Curitiba.

A passarela suspensa faz parte de um plano de expansão do shopping elaborado para inserir em suas instalações o conceito multiplex de exibição de filmes – formato que chegou ao Brasil em 1997 e associa variedade de ofertas, conforto e segurança a um complexo de salas. A novidade foi a forma encontrada pelo estabelecimento para atender a antiga solicitação de seus clientes, além de manter e atrair novos consumidores, uma vez que Curitiba ganhará dois novos pólos de compras, o Barigüi Park Shopping e o Jockey Shopping.

As oito salas de cinema da rede Cinemark atenderão 2 224 telespectadores e têm inauguração prevista para janeiro de 2004. Para a implantação das salas foram consideradas duas condicionantes. Por ser um monumento histórico da cidade, o prédio não tem capacidade de expansão na área edificada. A solução encontrada pelo arquiteto Adolfo Sakaguti foi desativar o estacionamento, localizado no piso G3, para construção das salas, erguer um edifício-garagem que suprisse e aumentasse o número de vagas e interligar os espaços através de uma passarela.

Localizada a uma quadra do centro histórico de Curitiba, a área do shopping é patrimônio tombado na categoria unidades de interesse de preservação (UIPs) da cidade. Para as UIPs, monitoradas pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), são prescritas algumas regras de restauro, e uma delas é que as interferências construtivas não imitem a arquitetura do prédio, devendo haver contraposição arquitetônica. Nesse caso, o contraponto entre os séculos 19 e 21 se revela por meio de linhas futuristas compostas por elementos metálicos e grandes panos de vidro que revestem o edifício-garagem e a passarela suspensa.

ESTEIRAS ROLANTES

Implantada sobre a rua Mateus Leme, a passarela com estrutura metálica e vista panorâmica está suspensa a 8,50 metros do nível da rua. Apesar de sua forma cilíndrica revestida com elementos metálicos e grandes panos de vidros, ela não rouba a cena da histórica fachada do shopping, mas se faz presente na paisagem como contraponto arquitetônico.

Antes de chegar ao projeto final da passarela suspensa foram analisadas diversas hipóteses, entre elas uma via subterrânea, desconsiderada devido à infra-estrutura de águas pluviais, esgotos e eletricidade encontrada no local. O segundo passo foi a elaboração de um anteprojeto submetido ao Ippuc e enviado à Câmara Municipal. O projeto foi aprovado com base na Lei Municipal Ordinária 10 478/2002, que concede o direito de uso do espaço aéreo.

Entre os edifícios – shopping e garagem – havia um declive a ser ajustado, considerando alguns pontos: os comprimentos das rampas entre os pisos, a altura das vigas da passarela, a questão legal, custos e estratégia comercial. Para a implantação da passarela, o nível G2 foi eleito como ponto estratégico, já que, além de atender todas as premissas, dá acesso às futuras salas de cinemas, aos pisos de lojas e à praça de alimentação. Ao sair do shopping pela passarela o cliente é conduzido ao quarto piso do edifício-garagem.

Duas esteiras rolantes trabalham em sentidos opostos, para amenizar e tornar agradável o percurso dos pedestres até o shopping ou o estacionamento. As esteiras rolantes S 9500 Schindler, importadas da Áustria, têm capacidade para 6 750 passageiros por hora e velocidade de 0,500 m/s. Elas foram instaladas por uma equipe que reuniu técnicos brasileiros, austríacos e suíços.

Os módulos de tração foram içados e instalados diretamente sobre a estrutura metálica da passarela. Os componentes do corpo das esteiras foram montados separadamente sobre a passarela.

O tratamento térmico também foi um ponto relevante para o conforto do usuário. “Normalmente, em túneis o volume de ar pequeno torna o ambiente abafado, causando sensação desconfortável. Como solução, utilizamos lã de rocha na cobertura e sistema de ar condicionado. Para não haver perda de temperatura empregamos portas automáticas e construímos halls nos acessos dos edifícios, que funcionam como antecâmaras”, explica Sakaguti.

Devido à forma cilíndrica da passarela, o fechamento da cobertura se projeta para parte da lateral. A continuidade da curvatura da face externa da cobertura é interrompida, em sua área central, por um corredor técnico de 40 centímetros de profundidade, que percorre toda a extensão do tubo. A calha serve para vazão de águas pluviais e manutenção.

Texto de Gilmara Gelinski| Publicada originalmente em Finestra na Edição 33

https://arcoweb.com.br/finestra/arquitetura/adolfo-sakaguti-passarela-shopping-mueller-01-07-2003